terça-feira, 16 de junho de 2009

Haiti - As manifestações estudantis e as denuncias de sua "violência"

Por Batay Ouvriye[i]
La Haine, 12/06/09

Políticos podres, jornalistas sujeitados, intelectuais desossados...antigos mortos que voltaram ao país na queda de Duvalier graças às barricadas e ao fogo!

Durante a semana passada surgiu uma nova situação na conjuntura do país: os estudantes da Universidade do Estado do Haiti (UEH), pela primeira vez, juntaram de uma maneira muito clara suas reivindicações com as dos trabalhadores. Especificamente, se trata do reajuste do salário mínimo em debate hoje em dia – os pobres 200 gourdes (0.005 dólares)[ii], mais precisamente.

Saíram à rua: foram bloqueados. Não é surpresa: sob o governo de Préval, sempre que podem, as forças repressivas impedem ou rompem qualquer manifestação popular que tenha a ver realmente com os interesses dos trabalhadores,

Reagir aos estudantes: são eles os culpados! Situação característica. As vítimas são os culpados.

Os estudantes tem seus país que já não podem pagar seus estudos, vários deles vivem nos mesmos bairros populares, não conseguem pagar as cópias necessárias, mito menos falar em comprar livros ou utilizar transportes adequados, não chegam a comer ao meio dia!

Decidiram eles, então, manifestar-se e denunciar esta miséria, tanto física quanto mental, que os desequilibra e, assim, fazer frente à violência extrema que os afeta tanto quanto ao povo em geral. E, de uma maneira muito lúcida, articularam estas reivindicações com o “tema” do dia: o bloqueio que está propiciando Préval e seu asqueroso governo à promulgação da lei de reajuste que acaba de ser votada no Parlamento, tudo isso em concordância com os interesses dos mais reacionários e apodrecidos burgueses da indústria têxtil.

Sabem muito bem, estes valentes estudantes que este reajuste lhes diz respeito no mais alto grau; pois se refere aos seus pais, seus familiares, seus amigos de bairro…se trata enfim, do sistema que globalmente nos oprime e a todos do povo inteiro.

Para além de todas as tomadas de posição que acham justas as suas reivindicações, mas, que condenam a sua “violência”, nos dizemos claramente e em voz alta: frente a esta situação opressora e da repressão diária e também extrema das forças embrutecidas da MINUSTAH e da polícia nacional (formada e treinada por aqueles ocupantes), os estudantes usaram de tudo o que caia em suas mãos, e com razão! PONTO. No mais simples sentido, a sua resposta é tão somente LEGÍTIMA. Legítima pelo nível do bloqueio que ocorre hoje m dia em suas vidas; legítima frente a esta OCUPAÇÃO que vai destruindo a sua consciência de pessoas retas; legítima, pois, na profundidade de sua razão.

Não foram os estudantes que dispararam as balas. Nenhum deles entrou em lugares proibidos como estípula a lei em relação à polícia e às faculdades registradas. Não foram os primeiros a usar a força: nós podemos testemunhar de como foram as desproporcionais forças repressivas que interromperam as nossas manifestações de primeiro de maio passado, onde estavam, justamente estes mesmos grupos de estudantes, junto já com os trabalhadores de todo o tipo. Não foram eles quem atiraram gás lacrimogêneo, não somente nas ruas, parques centrais, dentro de faculdades, nos bairros vizinhos, mas, também, dentro do hospital municipal, e até defronte à maternidade, onde estão crianças recém nascidas que foram intoxicadas.

Este grupo de estudantes se perfila como valente aliado em uma vanguarda séria. Hoje, saíram à rua a expresar-se, enfim, e contam em voz alta, quão fartos estão desta sociedade que os oprime. Nada pode negar que maio de 1968, na França, deu lugar a um avanço social neste país. Quem se opõe à Intifada, ou às ferozes manifestações de Soweto,,,? Quem ousaria dar as costas a nosso 1804[iii], feito por cima de cinzas infinitas deste país? Quais, dentre estes políticos podres, jornalistas sujeitados, intelectuais desossados...antigos mortos que voltaram ao país na queda de Duvalier graças às barricadas e ao fogo, que nós os trabalhadores do povo, por cima dos nossos caídos no caminho erigimos?

Dizem que a MINUSTAH e a polícia estão para a “ordem”. Que ordem? NÓS. Desde nosso CAMPO, sabemos muito bem que cada vez que se desintegra a situação, a culpa é toda das classe dominantes e da sua ordem arcaica que a todo custo tratam de manter, assim como não querem acatar à menor reivindicação democrática. Não possuem nenhum sentido do momento histórico; seguem sendo colonialistas, escravistas – acabados!

É hora, para nós de todas as forças progressistas, de ASSUMIR, a mudança, a profunda mudança que exige a nossa sociedade, a mudança real, da mesma forma que se alcançou frente ao arcaico regime duvalierista…sem falar, de como o alcançaram os escravos em 1804: VIDA ou morte. Frente à MORTE que os dominantes tratam de nos infringir.

• Esta miséria rasante tem que acabar!

• Honra e respeito para os estudantes e à população que se ergue contra esta calamidade!

• Liberação sem condições para todos os presos!

• Satisfazer todas as reivindicações dos estudantes!

• Promulgar a lei dos 200 gourdes!

• Verificar e assegurar que os sanguinários burgueses a respeitem!

• Só as classes dominantes são responsáveis de que se tenha chegado a tão dramático momento: que o paguem eles!

Batay Ouvriye
Porto-Príncipe, segunda-feira 8 de junho de 2009

Tradução José Roberto – PCB Praia Grande


[i] BATAY OUVRIYE é uma organização que agrupa comitês de fábrica, associações de trabalhadores e militantes, trabalhadores por conta própria e desempregados, visando à construção de um movimento de trabalhadores combativo, democrático e independente, no Haiti. N.T.

[ii] 1 gourde (moeda haitiana) = US$ 0.02410 – 100 gourdes = US$ 2.41 (dados oficiais de 05/06/2009, conforme Exchange-Rates.org em Online Trading) N.T.

[iii] Data da Independência do Haiti. N.T.

Nenhum comentário: