sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Quem paga a conta?




Comércio da Franca, Sexta-feira, 17 de outubro de 2008.

ARTIGOS - Opinião

Estou pensando em mudar de ramo. Sou professor, sem vínculo empregatício. Mas estou querendo comprar um banco. Para isso vou tentar um empréstimo de uns R$ 20 bilhões para comprar o Banespa de volta. Se eu quebrar, peço mais uns R$ 50 bilhões emprestados para salvar o sistema econômico nacional.

Ocorre que durante as eleições deste ano fui sabatinado pelos jornalistas do Grupo Corrêa Neves. Debatendo sobre emprego, fiz a defesa enfática da autogestão, quando os trabalhadores assumiriam o controle e os lucros no caso de fechamento de empresas. Indagado sobre quem pagaria a conta no caso da experiência fracassar, respondi que, do jeito que as coisas estão, são os trabalhadores que pagam a conta - vide exemplos de fábricas de Franca que fecharam e até hoje não pagaram todas as dívidas trabalhistas. Assim, o mais justo seria que seus trabalhadores tivessem a chance de produzir riqueza e gerar lucro para eles próprios.

Passado pouco tempo daquela entrevista o capitalismo mundial deu provas de sua fragilidade e incoerência. As principais nações capitalistas tiveram que recorrer à ajuda dos Estados para salvarem um sistema que é falido por natureza. Quem defendia que o melhor caminho para o capitalismo mundial seria sua plena liberdade e a ausência de controle estatal curvou-se ante a necessidade de intervenções estatais para salvarem bancos falidos.

Mas a contradição é ainda mais profunda. Para salvar tais instituições, os governos injetaram em menos de um mês cerca de R$ 5 trilhões de reais(!!!) o suficiente para comprar 200 milhões de carros populares ou 50 milhões de casas padrão classe média, ou ainda, 350 vezes o Banespa – vendido por R$ 14 bilhões –, ou 700 vezes a Vale do Rio Doce – vendida por R$ 7 bilhões), ambos por FHC.

Na época, ‘doutores’ em economia diziam que o melhor remédio para resolver os problemas do mundo era o livre-mercado e a não ingerência do Estado. E a decretação da morte do comunismo, em séria crise após o fim da União Soviética.

Agora vemos um fenômeno irracional: para salvarem bancos os governos têm optado por estatizações parciais, comprando ações com dinheiro público, mas sem adquirir direito de votar. Desse modo, premiam os maus pagadores. Os bons pagadores, ou seja, os contribuintes, entramos com o dinheiro em nome do ‘equilíbrio econômico mundial’. Os maus pagadores, os donos dos bancos, recebem uma segunda chance e continuam com o comando.

Que tipo de lição fica? Para desestimular administrações bancárias ineficazes, coibir a especulação econômica e ‘castigar’ os maus banqueiros, os governos pagam os donos dos bancos e permitem que permaneçam com seus cargos, lucros e salários. É como ‘punir’ um político condenado por corrupção com mais tempo de governo e ainda emprestar dinheiro para ele. Eis o melhor e mais atual exemplo de que, no capitalismo, quem paga a conta é o trabalhador.

Finalizo com o pensamento de um célebre comunista e revolucionário, Vladimir Ilitch Ulianov, também chamado de Lênin. Dizia ele: ‘O que é um assalto a banco diante de um banco?’ Pertinente!

Tito Flávio Bellini
Secretário político do PCB-Franca, mestre em História e Cultura Política

Nenhum comentário: