sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Cravamos nossa bandeira em Franca: um balanço das eleições


Passadas as eleições municipais de Franca, resta agora um pequeno balanço de todo o processo.

Do ponto de vista político, pouca discussão ocorreu, sem abranger satisfatoriamente aspectos ideológicos e alternativas societárias. O debate permaneceu, na maior parte do tempo, circunscrito às questões técnicas ou administrativas. As visões de mundo, as concepções de sociedade e de política não permearam adequadamente as discussões. Encontramos incoerências significativas, como candidaturas tidas como novas, mas com posições extremamente conservadoras. A grande maioria das candidaturas não apresentou programa de governo, apenas propostas pontuais.

Do ponto de vista eleitoral o grande vitorioso foi o atual prefeito reeleito, Sidnei Rocha, do PSDB. Demonstrou seu descolamento de qualquer viés coletivo partidário ao afirmar em entrevista ao Comércio da Franca que a maior força política da cidade é ele. Desconsidera as centenas de pessoas e os partidos políticos de sua coligação. Nenhuma novidade até aí. Ganhou cheque em branco para governar uma cidade com quase 350 mil habitantes e orçamento em torno de 350 milhões de reais. Ganhou sem assumir compromisso algum e sem responder a questionamentos de seu governo que termina. É um voto de confiança do eleitorado francano, que o credenciou inclusive para candidaturas à Câmara Federal.

À esquerda, o PCB também foi vitorioso, pois construiu uma campanha de prefeito e outra de vereador em apenas 3 meses, com recursos que não chegaram a 2 mil reais, apresentando propostas, construindo um plano de governo, qualificando as discussões e divulgando o nome do partido regionalmente. O reconhecimento de sua postura veio de outros partidos e da própria imprensa local, independente do número de votos obtidos. Conquistou militantes e apoios em diversas esferas da sociedade, tendo terminado em quarto lugar nas eleições com 1.723 votos (1,04% dos votos válidos) e, nos votos de legenda, praticamente empatou com o PPS, partido de tradição na cidade e com chapa completa de vereadores. Na legenda acabou ainda bem à frente do PC do B (tivemos 152 votos de legenda e 39 nominais para vereador).

Outro vitorioso no processo eleitoral foi Cristiano Rodrigues, que conseguiu costurar uma aliança, ainda que limitada, e atingiu mais de 4% dos votos válidos no resultado final do processo. Terminou em terceiro lugar, desvinculando-se de posições históricas de seu partido, o PV.

No PT, uma vitória pontual de Paulo Afonso, marcando o retorno do Sindicato dos Sapateiros à Câmara Municipal. Sua declaração à rádio Difusora, após a vitória, de que isso representa o retorno do PT à sua origem operária, pode significar uma nova orientação política dentro do próprio partido. Resta saber se terá a força interna necessária para liderar esse processo de renovação.

Outros vitoriosos foram o PP (reorganizado por Sidnei Rocha), da delegada Graciela Ambrósio, e o PTB, de Ary Balieiro e Vanderlei Tristão, cada partido elegendo 4 vereadores.

Os grandes derrotados do processo são muitos. Começarei pela oposição parlamentar de centro-esquerda, o PT. Numa tática equivocada, apostou na polarização e, ao tirar o PPS de cena e trazer para sua chapa André Jorge, enfraqueceu o quadro político eleitoral, antecipando o então pouco provável segundo turno. Na câmara de vereadores o PT não ampliou seu espaço. O ex-vice-prefeito petista Cassiano Pimentel amargou o terceiro lugar com menos de 1.700 votos, muito pouco para quem ocupou cargos de destaque e disputou candidaturas a deputado, obtendo expressivas votações.

No centro político o PPS foi um dos maiores derrotados, pois errou taticamente ao abrir mão de um bloco que poderia se apresentar como terceira força eleitoral em Franca, com potencial de aglutinar votos e, quem sabe, forçar o segundo turno. Na última pesquisa apresentada com candidatura própria o PPS já aparecia com 5%, ou seja, tinha energia e densidade suficientes para superarem a marca dos 10% dos votos válidos sem dificuldades. Optaram por apoiar o desgastado PT em Franca. Amargaram ainda a derrota para a Câmara, pois a coligação proporcional não atingiu o quociente eleitoral, talvez pela impugnação de um candidato que tinha potencial de votos. Resumindo: não elegeram ninguém, vincularam-se ao PT, maculando sua "independência" e não conseguiram mapear seus pontos de apoio no município.

Na oposição não parlamentar de esquerda o PSOL também não foi bem. Com uma candidatura a prefeito de um ex-presidente do Sindicato dos Sapateiros, ex-vice-presidente da CUT Nacional, que inclusive já tinha disputado eleição para deputado federal, não conseguiu ter uma votação expressiva em Franca, tendo terminado em último lugar (0,79% dos votos válidos), mesmo com alguma estrutura oferecida pelo partido e com o apoio de pessoas de expressão, como Heloísa Helena. Com uma chapa de vereadores pequena, seu principal nome não repetiu a votação da eleição passada.

No campo da direita, muitos derrotados na coligação que reelegeu o prefeito. Primeiro o DEMO, do deputado Gilson de Souza, que não conseguiu reeleger seu irmão para a Câmara Municipal. A coligação não atingiu o quociente eleitoral, o que poderá ter impacto na candidatura do deputado em 2010. Outro partido derrotado, o PMDB ensaiou candidatura própria, ensaiou aliança com o PPS, mas preferiu a aliança com o prefeito. Amargou seu desaparecimento da Câmara de Vereadores. O PMN, que na eleição passada apoiou o PT e elegeu 2 vereadores, nesta eleição optou pela direita e, sem conseguir uma aliança proporcional, está novamente fora da Câmara de Vereadores.

O PSB, do deputado federal "neo-ribeirão-pretano" Ubiali, conquistou três vagas na câmara, mas a irmã do deputado teve votação pífia, demonstrando que não se transfere votos de forma tão simples. Além disso, terá sua candidatura ameaçada pela perspectiva do prefeito eleito candidatar-se à deputado federal, conforme declarações recentes após o resultado das eleições.

Daqui dois anos teremos novas eleições. Seu resultado dependerá essencialmente do comportamento e da ação dos partidos derrotados nas urnas e do desempenho do atual governo em Franca. E que venham as mudanças, à esquerda, é claro!

Tito Flávio Bellini
Secretário Político do PCB-Franca
Mestre em História e Cultura Política

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